Por: Selma Crespo Ribeiro Alves – Bibliotecária e sócia colaboradora

Parei para pensar e concluí: a paixão pelos livros nasce com a gente. “A pessoa é para o que nasce”, a vida e nossas experiências aprimoram os nossos quereres.

Sou bibliotecária não por acaso. Na minha escolha, pesou um pouco de poesia, achava bonito uma sala repleta de livros e acreditava, lá bem no início da predileção, que seria dona de todos eles. Sob a minha responsabilidade e guarda, tomei posse.  Acreditei tanto, tanto… que, no meu primeiro emprego (numa firma de Engenharia com uma biblioteca ainda de acervo técnico e enxuto), os meus usuários mais próximos anunciavam ao me ver: olha lá, chegou a dona da biblioteca.

Nesse espaço, há uns quarenta anos, já se discutia política, arte e tudo mais. Sempre acreditei que bibliotecas são pontos de estudo e também de encontros. Por conta disso, já rolava na época, os cafezinhos diários e o lanche reforçado no horário do almoço, promovidos por mim, às sextas. O último a portas fechadas, pois todos os Departamentos da Empresa fechavam para a refeição.

E fui pela vida mudando um pouquinho os espaços de trabalho, sempre apoiada por grupos, pois bibliotecários, como bem sabemos, são agregadores e partilham fácil informações e experiências.

Meu último pouso foi uma biblioteca universitária, que respondia à avaliação periódica do MEC. Quem conhece sabe das exigências e o trabalho que dá. Em contrapartida, a laboriosa biblioteca tinha uma vantagem:  ficava no andar térreo. Uma quarta parede de vidro, virada pro mundo. Clara e bem localizada, era também um espaço para realização dos eventos da Instituição, ou seja, local de encontro, agora com o aval da chefia. Ô sorte!

Ah, e a paixão pelos livros? A paixão pelos livros nunca me abandonou! Se ser dona de uma biblioteca sempre me encantou, imagina agora, que sou dona do meu tempo. Leio, às vezes com avidez, outras com frouxidão, sabe? Deixando para o outro dia o final da história para não ficar órfã do livro. Coisa mais doida!

E leio, e releio. Citando Nelson Rodrigues: “Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros, três ou quatro, que nos salvam e nos perdem”. As minhas releituras são muitas. Arrisco dizer que todos os livros que mantenho no meu acervo particular merecem uma nova leitura.

E leio, não para passar o tempo. É que o tempo passa e eu ainda tenho muito que aprender. Confesso, agora ando um tanto leviana, flertando com o cinema, uma nova paixão.  As escolhas têm seu tempo, mas isso é uma outra história…

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