Por: Robson Dias Martins – Mestre em Biblioteconomia pela UNIRIO, bibliotecário da UERJ e membro da REDARTE/RJ

Uma querida bibliotecária da Redarte-RJ me solicitou um texto, em homenagem ao dia dos bibliotecários, onde eu pudesse apresentar os problemas e as dificuldades enfrentadas pelos profissionais que atuam no Estado do Rio de Janeiro, em particular, a situação calamitosa que envolve servidores do Estado e profissionais que trabalham ou trabalhavam nas Bibliotecas Parque.
Para iniciar minha reflexão acerca do tema, fiquei na dúvida se o momento é de comemoração ou de luta por dias melhores para toda a classe. Afinal, além dos problemas enfrentados por uma ampla comunidade de bibliotecários com emprego e sem salários, temos outro grupo enorme de desempregados que não conseguem oportunidades dentro da área há anos!
Para mim, essa experiência de falar sobre algo que estou vivenciando, é uma oportunidade ímpar de dar voz aos bibliotecários que estão sofrendo momentos de profunda angústia dentro desse desgoverno atual.
Como start inicial pensei nas celebrações que o Dia do Bibliotecário remetem. E me recordei de momentos felizes pelos quais passei a cerca de quinze anos atrás quando prestei concurso para a querida e majestosa Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Lembrei da felicidade dos meus pais ao saberem de minha aprovação e da festa que fizemos quando recebi o telegrama de convocação! Sim, era assim que éramos convocados. Naquele momento, era a certeza de trabalhar no serviço público, ter salários em dia e estabilidade profissional que geraria um certo conforto financeiro e, por conseguinte, emocional. Doce ilusão!
Logo após ter tomado posse na UERJ, tive oportunidade de vivenciar as alegrias de trabalhar numa biblioteca universitária e pública de qualidade, com ambientes abarrotados de alunos, corredores agitados, professores e pesquisadores em busca da descoberta que provocaria o progresso de nossa sociedade. Enfim, uma efervescência que me lembrava meus tempos de aluno e me contagiava profundamente. Parado aqui escrevendo esse texto, penso e me recordo desses nesses dias felizes. E bate uma saudade de um passado muito recente, de uma época muito presente na vida dos profissionais daquela instituição, mas que aos poucos está desaparecendo.
A seguir, percebo que os momentos de celebração estão no passado. O momento é árduo, doloroso e requer lutas por dias melhores. A atual situação é trágica! Ela envolve muito mais que o fechamento ou sucateamento das bibliotecas do Estado do Rio de Janeiro, ela vai além e está relacionada com o fechamento das universidades, das FAETEC`s e das Bibliotecas Parque. O atual desgoverno provoca a desvalorização paulatina que vem desestruturando as Instituições de nosso Estado com o intuito da privatização por asfixia. Nesse sentido, o momento deve ser de luta pela educação de qualidade, pública e gratuita. Onde haja o engajamento de toda a sociedade e, mais especificamente, do corpo docente, discente e técnico administrativo, com uma participação ativa dos bibliotecários.
Diante deste panorama nada favorável, é fundamental que os bibliotecários entendam que essa categoria enfrenta um pesadelo sem aparente fim, um sofrimento cotidiano que afeta a dignidade humana, atinge o respeito profissional e gera desastres psicológicos, financeiros e morais para toda classe. Momento em que a reflexão e a ação devem fazer parte das atividades da classe.
Nesse contexto, fica a pergunta! O dia é de comemoração ou de reflexão de toda a classe Biblioteconômica? Onde estamos e para onde queremos ir enquanto bibliotecários, profissionais ligados com a literatura, a informação e o conhecimento? Vamos ficar parados observando o fechamento de bibliotecas e de campos de trabalho ou lutaremos por nossa classe profissional?
Atualmente, centenas de profissionais, ativos e aposentados, estão sem receber décimo terceiro salário de 2016, além das remunerações referentes aos meses de janeiro e fevereiro de 2017. Esses homens e mulheres, pais e mães de família vivem as incertezas do dia-a-dia e se desesperam com a miséria assombrando suas portas!
Hoje, diversos bibliotecários estão desempregados e os futuros profissionais que estarão se formando nos próximos anos poderão perder campo de trabalho com o reflexo das novas ações governamentais do Estado do Rio de Janeiro. Afinal, a proibição dos concursos dentro da esfera estadual impossibilita o acesso de novos profissionais.
O momento é difícil e gravíssimo, os colegas da UERJ, UEZO, UENF, FAETEC e das Bibliotecas Parque vivem a incerta do amanhã. São submetidos aos desmandos e desgovernos de políticos inescrupulosos e se salvam como podem. Vivem um pesadelo cotidiano, desumanizado e caótico que arrebata o físico e o psicológico.
Para finalizar, devemos lutar pela reabertura das Bibliotecas Parque, um modelo referencial e de grande importância para o povo fluminense. Essas bibliotecas representam uma evolução do fazer Biblioteconômico, uma oportunidade ímpar de ação social dos bibliotecários juntos com os moradores das comunidades.  Precisamos lutar também pelas Bibliotecas universitárias públicas, em particular, a unidade da Escola Superior de Desenho Industrial da UERJ, que possui um acervo espetacular na área de Design e Artes e está sofrendo um sucateamento vergonhoso. O fechamento dessas bibliotecas provocam um retrocesso para a sociedade e abrem uma lacuna para o encerramento de outras unidades.
Diante do exposto neste texto, salientamos a importância da participação de todos os bibliotecários do Estado do Rio de Janeiro. A luta deve ser de toda a classe. Somente através da participação conjunta poderemos de fato comemorar dias melhores. Os dias são de luta e serão de glória. Afinal, desistir jamais!
Foto: Divulgação
Publicado em:14.03.2016