Por: Robson Dias Martins – Mestre em Biblioteconomia pela UNIRIO, bibliotecário da UERJ e membro da REDARTE/RJ

Vivemos um ano de turbulência com inúmeros escândalos envolvendo os políticos do Brasil. E no período que antecede os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em meio a toda corrupção, surge um decreto, assinado pelo governador interino do Estado, que instaura situação de calamidade pública. Nesse momento, em pleno século XXI, presenciamos ainda uma grave crise de valores na sociedade contemporânea. Ataques e massacres contra homossexuais, refugiados sofrendo com a guerra civil e morrendo na tentativa desesperada de fuga, meninas sendo estupradas covardemente nas grandes cidades e milhões de pessoas desempregadas pelo mundo.
Diante de um panorama que incita intolerâncias, como a religiosa, a xenofobia, a homofobia e o racismo, que reforçam pensamentos e atitudes que induzem ao conflito entre os povos, perante diversas questões de grande importância social, Martha Medeiros, escritora e colunista do Jornal O Globo, foi infeliz ao utilizar um estereótipo ultrapassado para representar a profissão de bibliotecária. Em seu artigo, publicado em 12 de junho de 2016, dia dos namorados, sob o título “Divagações sobre o amor”, ela acabou por causar desamor entre suas leitoras que atuam na área de Biblioteconomia.
A famosa autora, ao diminuir a profissão de bibliotecária, ultraja um enorme contingente de mulheres que exercem, com orgulho e amor, essa atividade. Além de insultar as poderosas que atuam na mediação entre informação e usuário, ela demonstra total desconhecimento do atual perfil da profissão.
Vivemos em uma sociedade dinâmica, globalizada, tecnológica e informacional onde não competem visões arcaicas, estereotipadas e preconceituosas sobre qualquer tipo de profissão. Neste contexto, não cabe a relação entre bibliotecárias com senhoras ou tias feias de óculos, atrás de balcões, guardando livros nas prateleiras ou solicitando silêncio a todo momento. Este pensamento, que permeou a vida das bibliotecárias no passado, não pode e nem deve ser aceito pelos modernos profissionais da informação.
Infelizmente a querida Martha Medeiros apresentou em seu texto uma visão equivocada, de quem parece desconhecer a importância destes profissionais. Todavia, sabemos que os bibliotecários são de extrema importância para a formação dos cidadãos. Atuamos em diversas frentes de trabalho. Contribuímos desde a formação de leitores nas bibliotecas públicas, escolares e infantis, até a otimização do fluxo informacional nas universidades, nas organizações, nas empresas e em qualquer tipo de instituição. Nossas funções estão ligadas a educação, cultura, docência, ciências, administração, planejamento, dentre outras áreas. Colaboramos ainda no desenvolvimento da arquitetura da informação, edificamos sites, trabalhamos com editoração eletrônica de periódicos, atuamos na construção de bibliotecas digitais, softwares e aplicativos que visam facilitar o acesso aos conteúdos informacionais de forma organizada, em qualquer lugar e a qualquer momento. Unimos a racionalidade para organizar, administrar e difundir informações com a capacidade de desenvolver redes e sistemas. E esta é apenas uma parte da gama de atividades que estas poderosas mulheres e honrosos homens atuam.
Não existem bibliotecários ideais, assim como não existem advogados, médicos, engenheiros, etc. Contudo, somos profissionais dispostos a suprir as necessidades informacionais de nossos usuários. Para tanto, possuímos características proativas, ágeis, diversificadas, competentes, dinâmicas, modernas, atuais, tecnológicas e de gestão. Essas são algumas das inúmeras qualidades necessárias para a formação de bons bibliotecários. Em suma, somos bem diferentes do estereótipo de tia chata, solitária e sem amor retratada pela autora.
Por fim, gostaríamos de convidar Martha para uma roda de conversa com as bibliotecárias da Redarte/RJ. Temos certeza que ela irá mudar de opinião sobre a profissão.
Que tal Martha, vamos tomar um café?
Publicado em: 21.06.2016