Cristian Santos é graduado em filosofia, tradução, biblioteconomia, teologia e letras (Língua e Literatura Francesas) pela UnB (Universidade de Brasília). Sua dissertação de mestrado foi premiada no Concurso Latino-americano “Fernando Báez” do Centro Argentino de Informação Cientifica e Tecnológica. A tese doutoral virou um livro e foi indicado para o prêmio Jabuti deste ano. Todas essas conquistas não foram em vão. O brasiliense Cristian Santos, 38, vendeu cocada dos nove aos 19 anos para comprar livros, materiais escolares, passe de ônibus e ainda ajudar em casa.
O título de doutor veio em 2010, quando concluiu a pós-graduação em literatura e práticas sociais com a tese Padres, beatas e devotos: Figuras do anticlericalismo na literatura naturalista brasileira. O trabalho é resultado da formação diversificada de Cristian. Curioso pela representação de personagens típicos da igreja católica na literatura do século 19, ele analisou as obras Tieta do Agreste, de Jorge Amado, O mulato e O homem de Aluísio de Azevedo, eMorbus, de Faria Neves Sobrinho. “Eu percebi que essas figuras eram frequentes na literatura, sempre retratadas de forma caricata e negativa”, conta.

Devotos e devassos/ Edusp

“Enquanto as beatas eram as fofoqueiras e rancorosas, que não se casaram e tiveram o destino comum das mulheres, os padres eram manipularadores e comelões”, explica. Ele percebeu que as beatas, os padres e outras personagens eram a maior representação da igreja, em um momento de ruptura com o sistema vigente e de início das ideias de laicização do Estado. “A literatura era uma espécie de instrumento de militância em direção ao republicanismo”, detalha.
O interesse pelos arquivos da igreja começou com a pesquisa do mestrado. Ele buscou entender a situação dos primeiros arquivos brasileiros e encontrou informações sobre a memória e a identidade brasileira nas certidões paroquiais. “Até o século 19, não havia cartórios de registro no país. A única documentação da população era da igreja, com registros de batismo e casamento”, explica. A dissertação rendeu o prêmio do concurso Fernando Baesum e virou capítulo do livro Biblioclastia.
No ano passado, ele recebeu o convite da Editora da Universidade de São Paulo (Edusp) para transformar a tese em livro. O lançamento está previsto para 12 de março, às 10h, na Biblioteca Central de Estudantes da UnB. A escolha foi proposital: nessa data, é comemorado o Dia Nacional do Bibliotecário. “É uma forma de agradecimento à biblioteconomia, que me permitiu viajar por vários universos e ter uma visão multicultural.” Cristian criou uma página no Facebook em que publica curiosidades sobre o tema e  pretende percorrer o país para divulgar a obra.
Cristian Santos será um dos palestrantes no 4º Seminário de Informação em Arte em outubro na Casa de Rui Barbosa.
Fonte: http://goo.gl/nWnh7R