Por: Robson Dias Martins – Mestre em Biblioteconomia pela UNIRIO, bibliotecário da UERJ e membro da REDARTE/RJ
Daqui a menos de dois meses, as bibliotecárias maluka e mal-humorada, personagens do facebook, planejam visitar a antiga cidade maravilhosa e atual cidade olímpica do Rio de Janeiro. Durante os jogos olímpicos, as duas planejam sair do burburinho das disputas entre atletas e realizar um tour por alguns templos do saber carioca. Para tanto, já planejam pegar o VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos), inaugurado no mês de junho de 2016, e passear pelo novo Porto e Centro da cidade.
Elas estão eufóricas! Pretendem conhecer o novo prédio anexo da Fundação Biblioteca Nacional, que foi propagado como parte do legado olímpico da cidade e tem assinatura do arquiteto uruguaio Hector Ernesto Vigliecca. O projeto de renovação do edifício foi desenvolvido pelo escritório Vigliecca & Associados, vencedor do concurso realizado pelo IAB RJ, em cooperação com a CDURP e a Biblioteca Nacional, em 2014. Entre as propostas do arquiteto estava a conexão do edifício com o restante da cidade, através da construção de uma praça coberta e um vão livre. O nome da nova unidade de informação seria Biblioteca Nacional do Cais do Porto. Nela haveria um teatro, salas multimídia, café, galeria de exposições, restaurante e livraria, distribuídas entre a praça, o térreo e o mezanino. Existiria ainda uma biblioteca pública para estudo e empréstimos que ficaria de frente para a Baía de Guanabara.
Podemos aqui projetar a possível reação das duas amigas bibliotecárias ao passear pela cidade em seu tour cultural.
Chegando à famigerada edificação do anexo da Biblioteca Nacional, as amigas se assustariam com a situação do prédio e parodiariam os humoristas Fábio Porchat e Tatá Werneck com um grandioso “Xiiiiiiiiiiiiiiii! Cadê a biblioteca?”. Atônicas, não perceberiam a chegada de um pivete carioca que sem alarde diria “Perdeu patricinhas, não tem nada aí nesse lugar! Aproveita e passa o celular, tia!”. Ele não imaginaria que “tia” é a forma carinhosa mais detestada pelas bibliotecárias! O guri, seguindo o seu caminho, deixaria Maluka e Mal-humorada bufando de raiva e sem seus aparelhos eletrônicos.
As frustrações das meninas estariam longe de terminar. Voltando para o VLT desceriam na Cinelândia, reduto outrora dos cinemas do Rio de Janeiro. Perto dali se encontra uma importante biblioteca universitária relacionada às artes e pertencente ao Estado do Rio de Janeiro. Ao adentrarem na unidade, mais uma decepção! Descobririam que as universidades e as escolas do Estado do Rio estão em greve há mais de três meses e ainda não receberam nem um centavo esse ano!!! O governo, no momento, só se importa com estádios, ginásios e obras de embelezamento. Elas não poderiam conhecer a famosa unidade de informação e sairiam do local compadecidas com os colegas cariocas. Enfureceriam ainda com a notícia da demissão em massa das funcionárias terceirizadas sem os ganhos legais. Arrasadas, pensariam nos grandes esportistas do saber grego, Sócrates, Platão e Aristóteles. Em um devaneio conjunto, imaginariam os sábios no alto do pódio Olimpo dialogando sobre a situação das pobres bibliotecárias e filosofariam: “Coitados dos bibliotecários que acreditaram numa cidade olímpica onde poderiam valorizar a educação”. E, naquele momento, elas entenderiam que ao invés de “ginásios do saber de ouro” ganhariam uma “bela medalha de tolo”!